O século XIX trouxe a Velha Goa o abandono e a ruína. A outrora magnificente capital do Estado da Índia, que no século XVI chegou mesmo a ser designada como a Goa Dourada e a Roma do Oriente, chegou a finais de Oitocentos num estado calamitoso, fruto de diversas vicissitudes que se foram sucedendo ao longo dos séculos: a concorrência com outras potências coloniais europeias com a consequente perda de vastas possessões, o bloqueio marítimo holandês, as invasões maratas, as pestes e insalubridade que assolaram Goa, a mudança da capital de Goa (Velha Goa) para Pangim (Nova Goa) e consequente mudança dos serviços públicos, a extinção das ordens religiosas e abandono e ruína de inúmeras estruturas religiosas? Na década de 1880 instituiu-se inclusivamente uma comissão para inventariar as estruturas remanescentes de Velha Goa e decidir quais seriam preservadas e quais seriam demolidas.

Porém, o ocaso de Oitocentos coincidiu com o alvorecer das preocupações patrimoniais no Estado da Índia, fruto de acções protagonizadas por portugueses em comissão de serviço na Índia (como Cunha Rivara ou Lopes Mendes) ou das elites locais mais instruídas (como Ismael Gracias, Bragança Pereira ou Panduronga Pissurlencar). Em finais da década de 1890 foi formada a Comissão Permanente de Arqueologia, e foi fundado o Real Museu da Índia Portugueza, instituições que iniciaram o longo processo de sensibilização, divulgação e protecção do património e da história de Velha Goa e da Índia Portugueza.
 

Contudo, foi somente após a independência da Índia, em 1947, que se realizou um ambicioso plano para preservar o património e a memória da vetusta antiga capital, que coincidiria com as celebrações do IV Centenário da Morte de S. Francisco Xavier (1952). Esse plano foi idealizado não apenas com o intuito de celebrar um importante evento religioso, nem tampouco com meros intuitos de preservação patrimonial; mais do que isso, os restauros efectuados nos monumentos de Velha Goa pretendiam exibir um território ultramarino português, de cultura lusotropicalista, diferente da restante Índia, e por isso mesmo ligado a Portugal. À imagem da metrópole, também aqui o património arquitectónico foi utilizado como um instrumento ideológico e propagandístico por parte do Estado Novo.
 

O célebre arquitecto Baltazar Castro, antigo dirigente da DGEMN, foi enviado em comissão de serviço para a Índia no início da década de 1950, tendo efectuado um conjunto de intervenções nos monumentos de Velha Goa que marcaram indubitavelmente a sua imagem. Algumas dessas intervenções tornaram-se fonte de intensa polémica, que chegou inclusivamente aos nossos dias. Entre 1958 e 1961, efectuou-se um plano para a musealização de Velha Goa, por parte de uma comissão liderada por Ismael Gracias e directamente patrocinada pelo governador-geral Vassalo e Silva. Os planos foram amplamente discutidos entre a província ultramarina e a metrópole, que se decidiu a enviar o ilustre arquitecto Luís Benavente, outro antigo dirigente da DGEMN, em comissão de serviço para a Índia. Porém, muito pouco do que havia sido proposto pela comissão de Ismael Gracias foi efectivamente concretizado, pois em Dezembro de 1961 o território foi integrado na União Indiana. Mas foi esse património de Velha Goa que permitiu a sua classificação como Património da Humanidade.

 

No âmbito desta exposição propõe-se igualmente a organização da Conferência Internacional "Salvaguarda Patrimonial em Velha Goa durante a Administração Portuguesa / Safeguarding of Religious Built Heritage in Goa", a concretizar na sede da Delegação de Pangim da Fundação Oriente.


Organização
Joaquim Rodrigues dos Santos (ARTIS-IHA, FLUL)

Cartaz
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Conferência
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